Agora que já conhecemos o funcionamento individual dos resistores e capacitores, podemos estudar um circuito muito útil formado por um resistor e um capacitor.
Estes circuitos são denominados circuitos RC e, embora sejam simples, possuem inúmeras aplicações em eletrônica, comunicações e sistemas de controle.
A análise de circuitos RC é feita aplicando as leis de Kirchhoff tal qual foi feito para os circuitos resistivos. A principal diferença é que a aplicação das leis de Kirchhoff a circuitos resistivos resulta em equações algébricas, já a aplicação dessas leis a circuitos RC produz equações diferenciais de primeira ordem, que são mais difíceis de resolver do que as algébricas.
Neste artigo vamos analisar o comportamento da saída para circuito sem fonte e com uma entrada degrau.
Circuitos RC sem fonte
Um circuito RC sem fonte ocorre quando sua fonte de corrente contínua é desconectada abruptamente. Assim, a energia armazenada no capacitor é liberada para os resistores. Para entender o funcionamento desse circuito, vamos considerar o circuito mostrado na Figura 1.
O objetivo da análise é determinar a resposta do circuito, que nesse caso é a tensão v(t) no capacitor. Como o capacitor está inicialmente carregado, pode-se supor que no instante t = 0 a tensão inicial seja é V0.
E a energia armazenado no instante 0 é dada por:
Ao aplicar LKC ao nó superior, temos que a corrente é:
Por definição, temos:
Logo:
A equação encontrada trata-se de uma equação diferencial de primeira ordem. Isso porque, há somente a primeira derivada de V envolvida. Para encontrar o V isolado, primeiramente será preciso fazer a seguinte manipulação algébrica.
A razão para isso é facilitar a integração em ambos os lados necessária para isolar V. Assim, após integrar, temos:
Onde ln A é a constante de integração. Usando as propriedades logarítmicas, temos:
Finalmente, é possível isolar v:
Lembrando das condições iniciais, temos que v(0) = A = Vo. Logo:
O resultado encontrado é que a resposta em tensão do circuito RC é uma queda exponencial da tensão inicial. Essa resposta se deve tanto à energia inicial armazenada, quanto às características físicas do circuito.
Como esse desempenho não é gerado por alguma fonte de tensão ou de corrente externa, ela é chamada de resposta natural do circuito.
Graficamente fica mais fácil visualizar esse comportamento. Observe na Figura 2, que quando t = 0 temos a condição inicial V0. Na medida em que se aumenta o t, a tensão vai diminuindo, cada vez mais se aproximando de 0.
Fonte: ALEXANDER (2013).
A velocidade em que a tensão diminui é expressa em termos da constante de tempo, representada por τ (tau).
A constante de tempo de um circuito é o tempo necessário para que a tensão diminua 36,8% ( 1/e) de seu valor inicial.
Logo, quando t = τ, temos:
Isso implica que τ = RC, portanto:
Em resumo, para se trabalhar com um circuito RC sem fonte é necessário determinar:
- A tensão inicial v(0) = Vo no capacitor
- Em posse da tensão do capacitor torna-se possível determinar outros valores, como: a corrente de capacitor iC, a tensão vR e a corrente do resistor iR.
- A constante de tempo τ
Exemplo RC sem fonte
Para entender como trabalhar com circuitos RC, façamos um exemplo. Considere o circuito da Figura 3, com Vc(0)= 15 V, para determinar Vc, Vx e ix para t > 0.
O primeiro passo para resolver o problema é adequar o circuito da Figura 3 ao circuito RC padrão, como mostrado na Figura 4. Assim, determinamos a resistência equivalente ou a resistência de Thévenin nos terminais do capacitor.
Então, os resistores de 8 Ω e 12 Ω em série serão associados, resultando em um resistor de 20 Ω. Por sua vez a resistência de 20 Ω está em paralelo com o resistor de 5 Ω, associando ambos temos uma resistência equivalente:
Nosso objetivo sempre é obter, primeiramente, a tensão VC no capacitor. E através desta, determinar Vx e ix. Assim, com o Req é possível determinar a constante do tempo.
Logo:
Ou seja:
Utilizando o princípio da divisão de tensão para obter Vx, temos:
Por último, encontramos que ix é:
Resposta a um degrau de um circuito RC
Agora vamos entender o comportamento do circuito quando submetido a fonte de tensão ou de corrente modelada como uma função degrau. A resposta para esse tipo de entrada é conhecida como resposta a um degrau.
A resposta a um degrau é a resposta do circuito decorrente de uma aplicação repentina de uma fonte de tensão ou de corrente CC (corrente contínua).
Para entender esse comportamento, vamos considerar o circuito RC da Figura 5.
Da mesma forma, a tensão do capacitor será a resposta do circuito. Iremos supor, também, uma tensão inicial V0 no capacitor, apesar de que isso não é necessário para a resposta a um degrau. Isso porque a tensão de um capacitor não muda instantaneamente:
Chamamos de v(0–) a tensão no capacitor imediatamente antes da chave fechar e v(0+) a tensão imediatamente após a fechar a chave.
Aplicando a LKC, obtemos:
Lembrando que v é a tensão no capacitor. Para t > 0, a equação ficará:
Rearranjando os termos, temos:
Ao integrar os dois lados, considerando as condições iniciais, obtemos:
Logo, a resposta ao degrau é:
Essa expressão é conhecida como resposta completa, ou resposta total, de um circuito RC à aplicação repentina de uma fonte de tensão CC.
Considerando que o capacitor esteja inicialmente carregado e assumindo Vs>V0, temos o comportamento mostrado no gráfico da Figura 6.
Fonte: ALEXANDER (2013).
Mas se considerarmos que o capacitor está inicialmente descarregado, temos que V0 = 0, logo a equação terá o seguinte formato:
Podemos ser resumido somente a:
A equação encontrada descreve a resposta completa a um degrau do circuito RC quando o capacitor está inicialmente descarregado.
Para obter a corrente através do capacitor utiliza-se a equação encontrada usando i(t) = C ‧ dv/dt. Assim, obtemos:
Logo, a corrente sobre o capacitor é:
O comportamento para esse caso é o mostrado no gráfico da Figura 7.
Uma forma de evitar as derivadas é utilizar um método simplificado para determinar a resposta a um degrau de um circuito RC. Ao analisar a equação abaixo (que foi desenvolvida ao longo do texto)
É possível notar que v(t) possui duas componentes, nesse sentido, existem duas maneiras de decompô-la em duas componentes.
A primeira delas é dividi-la em resposta natural e resposta forçada, de forma que:
Ou seja,
A resposta natural (vn) do circuito diz respeito ao comportamento do próprio circuito, sem a presença de fonte externa de excitação. Já a resposta forçada (vf), diz respeito à quando um agente externo (uma fonte de tensão ou corrente) é aplicado.
Outra maneira de se avaliar a resposta completa é dividi-la em duas componentes: temporária e permanente, isto é:
Ou seja,
A resposta transiente é a resposta temporária do circuito que se consome com o tempo. Enquanto a resposta em regime estacionário é a forma que o circuito se comporta um longo tempo após a excitação externa ter sido aplicada.
Em resumo, para encontrar a resposta a um degrau de um circuito RC é necessário determinar:
- A tensão inicial v(0) do capacitor
- Em posse da tensão do capacitor torna-se possível determinar outros valores, como: a corrente de capacitor iC, a tensão vR e a corrente do resistor iR.
- A tensão final v() no capacitor
- A constante de tempo τ
Referências
ALEXANDER, Charles K.. Fundamentos de circuitos elétricos. Porto Alegre: Amgh, 2013.










Parabéns Sthefania, deu uma aula de circuitos! Uma matéria muito complicada e que causou muito pânico em todos na época do curso de engenharia elétrica aqui na UFRGS. Depois que a gente aprende de verdade, començamos a gostar. Como tudo na vida, o conhecimento faz a gente crescer! Obrigado pelos artigos, vou ler todos com calma para lembrar dos tempos difíceis mas que venci quando tinha 18-20 anos! 🙂
Carlos.
Obrigada, Carlos Franceschini! É muito bom aprender e compartilhar conhecimentos 🙂